Passados 265 anos da tripla catástrofe que marcou de forma indelével a cidade de Lisboa, as evidências quotidianas daquele dia são transportados para a atualidade através de múltiplas intervenções arqueológicas, que nos últimos anos têm contribuído para conhecimento da história milenar da atual capital.

A intervenção levada a cabo na atual Praça D. Pedro IV, integrada no Projeto Municipal de Instalação de Ecopontos Subterrâneos na Cidade de Lisboa, abriu uma pequena janela para a descoberta de três divisões de uma casa, originalmente integrada num quarteirão do qual não subsiste qualquer marca na atual paisagem urbana. No interior dessas divisões, colmatadas pelos destroços decorrentes da destruição do edifício, ficaram os objetos, in situ, intocados desde aquele fatídico dia, alguns deles exibindo as marcas do incêndio que então deflagrou.

Esse conjunto material quotidiano, que apesar de pequeno, é funcionalmente bastante abrangente, permite-nos contar pequenas estórias daqueles que ali viveram e que por algum motivo, impossível de decifrar, não voltaram atrás para os recuperar. Para além de objetos em cerâmica, relacionados com diversas atividades diárias como a confeção e o serviço de alimentos, a higiene ou simplesmente o gosto estético, surgiram outros em metal e até em osso e madeira carbonizada, que devido à sua fragilidade raramente sobrevivem à passagem do tempo.

A estreita relação entre a COTA 80.86 e o Centro de Arqueologia de Lisboa no decurso deste projeto, possibilitou a colaboração do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora, a quem o estudo de todos os vestígios dos materiais orgânicos se encontra a cargo, e que esperamos sejam um complemento importante à restante amostra.

Acresce ainda o importante apoio de investigação histórica, desenvolvido pelo Gabinete de Estudos Olisiponenses que nos irá permitir chegar às pessoas que habitaram e fugiram, desta antiga casa lisboeta que foi abaixo com a tragédia do dia 1 de Novembro de 1755.